Recentemente viajei para outro país com o meu marido. Mais
precisamente para Santiago no Chile. Claro que aproveitamos para esticar esta
viagem, e como fazemos sempre fomos para lugares mais distantes, fizemos nossos
passeios e deslocamentos de metrô, ônibus e a pé. Táxi apenas no deslocamento de chegada e retorno ao
aeroporto.
Sempre fazemos isto, abrimos mão do “glamour”, das dicas
mais comuns, dos roteiros mais chiques. Achamos que desta forma conseguimos observar
um pouquinho mais do povo e cultura do lugar em que estamos conhecendo.
Lá em Santiago, bem como nas cidades vizinhas que visitamos
como Puerto Varas os carros param quando o pedestre coloca o pé na faixa. Sim,
mesmo em ruas com sinais e placas como em Santigo ou em ruas pequenas e quase
sem sinalização como Puerto Varas.
E se você já foi a Santiago, ou até em alguma cidade do
Brasil que isto acontece vai me dizer: qual a novidade? Nenhuma.
Mas para nós que moramos em São Paulo, e que até mesmo com o
farol verde às vezes tem receio de atravessar com tranquilidade, fez diferença.
E é sobre um diálogo nosso em uma destas ruas, que eu refleti e escrevo agora.
Acho que já no 3º dia de viagem percebi que o meu marido
atravessava correndo, receoso, ás vezes eu colocava o pé na faixa e ele parava
e segurava no meu braço, querendo me impedir de ir. Decidi perguntar a ele: você já percebeu que
eles param, que aqui eles dão preferência ao pedestre?
Ele me disse: "sim, eu percebi, mas não confio. É ser humano
com uma máquina na mão. E se ele não parar?"
Eu respondi: mas eles param! Confia. No 5º dia ele já estava
mais confiante.
Além de uma série de pensamentos e percepções que esta
viagem me proporcionou fiquei pensando nesta alusão.
Eu tenho “parado” em respeito ao meu próximo? Aquele
semelhante a mim, ou não, que precisa passar?
Eu tenho confiado que o meu próximo vai parar e me deixar
passar? Sendo eu semelhante ou não?
Quantas vezes podemos ou precisamos entender que é o momento
do outro, ou até mesmo que seja o nosso, é gentil e confortador parar para que
o outro siga em frente.
Ou quantas vezes precisamos confiar que o outro não irá nos “atropelar”
ou “puxar o nosso tapete”?
Embora, eu tenha ficado tranquila e confiante nas nossas
travessias no Chile, percebi que eu já fiz algumas paradas na minha vida para
que outros seguissem em frente.
Mas não confio, não espero e não acho que outros parariam
para que eu siga em frente.
E é ruim não confiar. Pois quando não confio, eu não
estreito, eu não dou espaço, fico em estado de alerta. E se não há confiança, ainda
que o outro pare eu “atravesso” rapidamente, cautelosa, em passos rápidos.
O que eu tenho perdido por não confiar, quais sorriso e
paisagens tenho deixado de enxergar?
E você, tem parado? Confiado?