domingo, 15 de dezembro de 2013

Apenas uma menina.



Ela era apenas uma menina. Sempre foi. Nunca deixou de ser.

Nasceu da situação de uma reconciliação, em um tempo em que sua mãe vivia em uma imensa dor.
Foi reconhecida como filha, por sua mãe e pai. Não nasceu no abandono.
Perdeu o pai logo após seu nascimento, não sabia o que isto representaria para a sua vida.

Cresceu, sem saber o que era ter um pai. Por mais de 11 anos tentou entender a dimensão disto em sua vida. Aos 12 sonhou com o seu pai dormindo dentro de um piano. Aquele sonho foi despedida, e o marco de um novo tempo. Deixou de procurar entender por que ela, apenas ela não tinha um pai.

Já que era sozinha mesmo, decidiu que não aceitaria mais ordens e nem regras, sua vida seria apenas como sua cabeça mandasse.

E a grande chave para isto seria a independência, o seu 1º passo foi ganhar dinheiro. E assim começou sua busca pela infeliz independência, autossuficiência e a construção de muitas muralhas emocionais.
Ela agora achava que poderia fazer o que quisesse, já tinha dinheiro e poderia ser dona do seu próprio nariz.

Achou que já podia namorar, afinal tinha 13 anos e já ganhava seu dinheiro.
Assim um rapaz poderia suprir aquele vazio, que o seu pai não havia preenchido, irmãos e tios também não. Mas um namorado, ah um namorado poderia.
Mas o 1º não preencheu. Então ela tentou com outro e depois com outro. E este agora era o ideal, o vínculo era forte, as sensações eram fortes, somente estar com ele importava para ela.

Aos 16 engravidou. Tudo ruiu, seus sonhos, sua independência, tudo perdido.
Aos 17 segurou outra menina em seu braço, e no meio de tantos sentimentos fortes e confusos, ela decide que mais uma vez, dali para frente à vida seria diferente. Conseguiria provar para todos que não seria isto que faria com ela ficasse paralisada.
Então mesmo menina, agora ela era mãe e mulher. E nisto reconstruiu suas feridas, cheia de orgulho.

Descobriu algum tempo depois, que este rapaz também não era perfeito. Foi trocada. Algo não previsto, algo incontrolável.
Descobriu que não tinha forças suficientes para suportar aquilo, pois além de cuidar de si mesma ela tinha uma filha que dependia totalmente dela.
Assim cresceu, ganhou dinheiro, comprou um carro, ganhou sua total liberdade.

Mesmos com todas estas conquistas, ela sentiu em sua boca o gosto amargo da morte. Sua filha também perdeu o pai, de uma forma violenta e cruel.

Sua alma adoeceu, ela sabia que ele não era perfeito, mas não queria a sua morte. Ela também quis morrer, quis parar, mas não podia. Tinha uma menina em seus braços.
Seguiu, construindo mais muros.

O tempo passou, e ela nunca mais amou. Agora já conhecia o jogo da vida, não podia mais colocar cartas limpas e claras na mesa. Tudo era um jogo, assim controlava sua alma que se tornou cada dia mais vazia.
Então se deu conta que tinha tudo que almejava, mas não era o suficiente.

Sua filha já estava com 12 anos, o tempo havia passado e então o medo e a insegurança pelo futuro desta criança começou permear seus dias. Queria que sua filha fosse mais feliz que ela, queria que fosse feliz de verdade.

O gosto amargo  voltou a sua boca. Era como se algo dentro dela houvesse morrido, faltava alguma coisa. Começou a se dar conta de que algo estava mudando internamente.
Neste mesmo tempo, uma voz insistia em falar com ela. Quase sempre, quando estava sozinha ou triste, ela ouvia: volte filha, volte.
Em sua memória haviam lembranças, ela sentia que um dia já estivera na casa de um pai. Não era físico, não era palpável, mas era um pai.
E a voz dentro dela clamava: volte para a casa do seu pai. Lá está o seu refúgio. Lá está sua completude.

Uma tarde ela decidiu para e ouvir aquela voz. Queria saber se a conhecia, se reconhecia de algum lugar.
Sozinha ela ouviu: filha, eu estou aqui. Tudo é permissão minha, tudo que aconteceu eu permiti. Você fez escolhas, mas o controle sempre foi meu.
Eu sou o teu pai, aquele que te abraçou em cada lágrima, aquele que te guardou em cada noite que esteve fora, aquele que enviou anjos pelos seus caminhos, aquele que poupou a sua vida. E também sou o pai da sua filha.

Ela reconheceu! Aquela era a voz do seu pai, sim era familiar. Então ela chorou.
Entendeu que a culpa não era sua, que a independência, a autossuficiência, o controle eram falsos, apenas acarretavam pesos em sua triste vida.

Correu para os braços do seu pai. 
Nunca mais faltou nada para a menina. Ela é rica, ela é herdeira, ela sempre terá morada.
E Ele mais uma vez, este ano, disse para ela: “você é a menina dos meus olhos”.

“Ela que tanto lutou, tanto chorou, enfim se entregou e percebeu que nunca esteve só. Deus, em sua vida foi sobrenatural. Fez da sua história além do que ela sonhava.
Hoje, ela sabe quem é: filha, serva do Deus vivo, menina dos Teus olhos, a desejada noiva do Senhor. Ela aprendeu a aceitar o tempo de Deus, e hoje diz para ele: é teu, ó Senhor, é teu o meu tempo”.*.


(Numa terra deserta Ele a encontrou, numa região árida e de ventos uivantes Ele a protegeu e dela cuidou; guardou-a como a menina dos seus olhos, Deuteronômio 32:10)



*baseado na música Sobrenatural – Fernanda Brum
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