quarta-feira, 1 de março de 2017

É preciso viajar


É preciso viajar.

Um relato bem despretensioso da nossa viagem à Bahia no final de 2016. A proposta desta viagem surgiu com o compromisso do marido em "pagar um promessa" feita para a minha mãe que passou por uma cirurgia no início do mesmo ano: "se a senhora sobreviver, vamos leva-la para visitar os parentes na Bahia". Lá fomos nós, unir o amor ao compromisso, o desprendimento à disposição e ritmo do outro. Relendo o roteiro descrito do que fizemos, acho que valeu a pena. Vem comigo neste café viajante, e imagine como foi:

Porto Seguro - Itabuna - Itacaré - Ilhéus/Bahia - Brasil 2016
1º dia: café delicioso durante o voo, 2 horas no ar e já estávamos na Bahia. Motorista que nos aguardava era muito simpático, deu dicas e nos deixou na pousada escolhida. Atendimento simples, simpático e eficiente.

Dicas de praias fora do circuito turista, orientação para os pontos dos coletivos e bancos.
Almoço no quintal da casa vizinha: Escritório Restaurante: moqueca mista, devidamente acompanhada de pirão, pimenta e atendimento simples e caseiro.
Para finalizar o dia, Picolé do Zé: maracujá, pitanga, cupuaçu, cajá, coco... fruta no palito.

2º dia: iniciamos o com um café  da manhã simples, como a pousada que escolhemos, mas cheio de amor
Seguimos de coletivo, que faz a linha normal dos moradores, para uma almoço riquíssimo e delicioso na casa da prima: a melhor moqueca caseira, vatapá, abóbora com quiabo, arroz, feijão, suco de maracujá, suco de umbu, mousse de cupuaçu e muitos primos, conversas em alta voz, fotos antigas e café.
Voltamos para a pousada e ainda tivemos disposição para papear com os vendedores de barracas, apreciar um bom acarajé. E para fechar o dia: tapioca de carne seca, com queijo e purê de banana da terra e suco de cacau: indescritível!

3º dia: Café da manhã tranquilo, sem pressa e com suco de  seriguela.
Enquanto a dna. Valdete foi passar o dia na casa da sobrinha, decidimos ir a praia.

Caminhada rápida nas ruas de paralelepípedos, entre as casas com fachadas antigas. Fomos de coletivo que faz o trajeto por todas as praias.
Uma hora de estrada, muitos turistas, coletivo lotado. Vozes com muitos sotaques.
Do lado esquerdo da estrada, grandes hotéis, complexos turísticos e Resorts. Do lado direito, visão infinita de um mar verde, imponente e cercado de barracas onde os turistas são servidos por pessoas que não moram, e talvez jamais usufruam do luxo do lado oposto. A grande maioria dos turistas, descem e ficam nas praias badaladas, nosso destino era quase o último e poucos desceram conosco.

Na chegada da praia Coroa Vermelha, um corredor cheio de barracas de produtos variados, que termina no pátio da 1ª missa rezada no Brasil. A Cruz  cravada no meio do pátio. Descendentes de índios vendem lembrancinhas e fotos, da terra que um dia foi deles.
Nos acomodamos. Mar calmo, nada de muvuca, lambaeróbica, axé ou dançarinos.
Banho de mar, leitura de livro, caminhada de mãos dadas, peixe frito, sucos de maracujá, cupuaçu, caju e cacau. Um dia de férias.

4º dia: dia de irmos para Itabuna. Nos dividimos, alguns de carro, os outros de ônibus. Muita terra, muito verde. Tudo tem dono. Estrada boa, a chuva foi nossa companheira.
Parada no meio do caminho para comprarmos chocolate direto da fazenda Boa Esperança, na loja Chocolate da Bézinha: cacau de verdade, sem conservantes, corantes ou misturas.
Um pouco mais de estrada e chegamos a Itabuna, bairro Califórnia, rua da Glória.  Uma vida inteira ouvindo sobre este lugar. Um vida inteira recebendo cartas deste endereço.
Não exploramos muita coisa,  era apenas uma passagem mesmo, mas logo se percebe que tem de tudo em Itabuna. 
Casa cheia, rostos desconhecidos e curiosos, alegria e abraços de irmãs e sobrinhas, o rosto  da dna. Valdete era só felicidade. Na cozinha, comida pronta. Simples, caseira e cheia de amor e agradecimento.
Como previsto, e ainda bem que deu certo, dna. Valdete fica um Itabuna, tempo de matar saudades, conversar, receber visitas e possivelmente relembrar momentos da vida dela na rua onde cresceu e viveu.Um tempo somente para ela. Nós, seguimos rumo a Itacaré.

Rodoviária cheia, movimento normal para um dia 22 de dezembro, passagens compradas, malas nas mãos, desta vez  estaremos na estrada juntos. Previsão: 2 horas e meia de viagem.
Realidade: 3 horas e 40 minutos de viagem, muitas paradas, estrada estreita e escura, curvas, subidas, descidas e chuva, muita chuva. Durante o percurso, muitos moradores subiram e ficaram pela estrada, no final do trajeto apenas nós, e mais 3 pessoas.
Rodoviária minúscula, no meio do nada e muitos gritos de "táxi"? "carro" e ninguém com cara de taxista. Óbvio que turista se conhece logo, mas nada de pânico: voz segura, pergunta certa, sem rodeios e muitos sorrisos, logo estávamos em um táxi de verdade, com valor fechado e mais 10 minutos na entrada da pousada.

Cansaço, resquícios da chuva e falta de preparo do recepcionista do hotel, não causaram boa impressão na chegada. Fomos dormir, nada que um noite de descanso não restaure.

5º dia: começou com um café da manhã muito bom: bolos caseiros, pães caseiros, ovos mexidos, suco de cacau cajá, café e expectativas para a praia. Enfim, um dia inteiro de praia.
Para aplacar o cansaço, vamos a praia mais próxima: a da Concha. Bem pertinho, 2 ruas abaixo da pousada, várias opções de barracas, estrutura de cadeiras e guarda sol, música ambiente nas barracas, porém apenas ambiente. Difícil mesmo foi escolher para qual dos lados olhar: quanta beleza! Que paraíso! E ainda por cima águas tranquilas!? Não precisava conhecer mais nada, ficar ali já bastava.

A praia é pequena: do lado esquerdo para quem olha de frente para o mar, lá no finalzinho, um mirante em cima das pedras de onde é possível avistar um pedaço do centrinho de Itacaré com suas casas históricas, e o encontro do rio com o mar, além dos passeios rasantes dos barcos pesqueiros e as escunas que levam os turistas para a cachoeira. 
Do outro lado, pedras e arrecifes que dividem o mar e traçam o caminho para a praia do Resende. Na ponta das pedras em sentido do mar,  um grande farol branco.

Após um delicioso almoço: moqueca de peixe, arroz, pirão e pimenta, mais suco de cacau e cupuaçu, descanso, mais banho de mar e stand up, um espetáculo da natureza: o sol se pondo atrás do mirante e refletindo no outro lado da praia, na parede branca do farol. 

A noite fomos conhecer o centrinho. O famoso Pituba em Itacaré, é praticamente uma rua longa onde é possível encontrar restaurantes para todos os gostos, artes,  mercado, lanches, artesanato, música e muitos "viajantes Roots" que passam e ficam por Itacaré. E o que mais fazemos em férias? Comemos!

Jantar delícia: preço acessível, peixe fresco e mais sucos de frutas. Liginha aproveitou a oportunidade e cansada de comer peixe, como uma boa paulistana escolheu spaghetti ao molho vermelho.
Muito agito: turistas, apresentação de capoeira, lojinhas de acessórios ( sempre de viajantes que vieram de outras cidades ou Países e ficaram em Itacaré). Paramos na Banana Gourmet, conhecemos a doce Ester. Prometemos voltar para provar a iguaria: banana da terra empanada e recheada com doce de leite. 10 minutos de caminhada contemplando o lindo céu de estrelas e estávamos de volta a pousada.

6º dia: véspera de natal, dia de conhecer as praias próximas: Resende e Tiririca. Fizemos uma caminhada razoável pelo asfalto, saindo do centrinho, até a paria do Resende.
Linda, com bastante verde, caiçaras e surfistas. Andamos por cima das pedras que margeiam as praias, chegamos a praia do Tiririca e   fomos "recepcionados" por um atendente de barraca, alugando guarda sol e cadeiras. Praia brava, altas ondas e muitos surfistas. Ficamos  por aqui durante a manhã.
Logo após as 13:00 retornamos pelas pedras, paramos na Resende que é um enseada com lindos coqueiros e um gramado onde se praticam yôga e capoeira. Um tempo de brincadeira e fotos, seguimos rumo a Concha. 
Como voltamos pela estrada, rumo ao centro, paramos no 1º restaurante da subida ( que eu realmente não lembro o nome) comida boa, caseira, peixe fresco e mais sucos. Em seguida, fomos encerrar a tarde: stand up, cochilo e aguardar o pôr do sol na praia da Concha.

A noite fomos ao centrinho com o objetivo de comprarmos comida fresca e saborosa, tudo para viagem. Antes de voltarmos, tomamos um rápido café na Banana Gourmet. Fomos atendidos pela Ester, e para a sobremesa: banana da terra empanada e recheada com doce de leite, acompanhada de sorvetes. Prometemos voltar com calma, não conseguimos. Mais um bom motivo para voltarmos a Itacaré.
Ceia escolhida foi carne seca cremosa com abobora, peixe grelhado com arroz,  e batatas fritas.
Montamos as mesas com total cumplicidade da pousada, foi um ceia de natal deliciosa e abençoada. Oramos, agradecendo a comida a mesa e a data que recorda o nosso maior presente e Presença: Jesus.

7º dia: café da manhã preguiçoso, sem pressa, tínhamos apenas praia no roteiro deste dia.  Procuro por banana da terra, e a Cláudia (ah a Cláudia, responsável pela cozinha da pousada) é ela quem faz as tapiocas, mas naquele dia eu queria mesmo era a banana da terra frita, e...ela fez! Meu Deus! Gosto de infância, de casa de mãe, de lanche da tarde...e o aroma? Ah o aroma. Comecei este dia bem feliz!
Dia inteiro na praia da Concha, que neste dia estava bem mais cheia, os moradores estavam de folga e também foram aproveitar. 
Almoçamos um moqueca deliciosa, e como deve ser, bem baiana.

Mais um passeio na Pituba, e sem querer sou atraída para uma loja de acessórios feitos com pedras brasileiras com referências e design africanos. Quase não consigo sair de lá sem deixar deixar muitos reais, ainda bem que resisti ao meu crivo do "quero, preciso, posso?" Mas, vale a pena conhecer a lojinha D'Afrique : bolsas, pulseiras, relógios e outras peças feitas artesanalmente. Confesso que meu coração disparou.

8º dia: dia de ir embora, até logo Itacaré.   Locamos uma Doblô até Ilhéus, e o Carlos dono e motorista aproveitou para nos contar sobre Itacaré, com um outro olhar, de uma outra forma. Sempre bom ouvir a realidade, e desconstruir a visão romântica do lugar, sem perder o interesse pela beleza natural.
A Chegada em Ilhéus não foi animadora. Janelas cheias de grades, bagunça no trânsito e a entrada da cidade bem abandonada. A pousada que passaríamos a ultima noite na Bahia, é dentro de um condomínio na praia dos Milionários. 
Bem simples, pouco entusiasmo, nada de aconchego. Uma casa urbana que foi transformada em pousada, mas que poderia receber e atender bem melhor.
O último almoço em terras baianas foi delicioso, uma feijoada leve no Sabores da Terra. Em seguida um ultimo olhar para o mar, seguimos rumo a Itabuna. Hora de buscar dna Valdete.
1 hora e um pouquinho de viagem, muito verde, 2 grandes faculdades pelo caminho, vilas, e estrada boa. 
Chegamos em Itabuna para o lanche: caranguejo, pão com frios, banana da terra assada e suco. Abraços de despedida, promessas de volta e seguimos para Ilhéus.

9º dia: dificuldade para acharmos um local para o café da manhã (faz sentido uma pousada não servir?), muito calor, malas prontas, seguimos rumo ao aeroporto. 
Sala de embarque lotada, aeronave lotada...mas dentro do horário chegamos a Salvador.
Mais um tempo de espera, lanche/almoço no aeroporto, cochilos, leitura, embarcamos rumo a São Paulo.
Chegada tranquila na pista. Saguão lotado, estacionamento cheio, embarque e desembarque frenético, cheio de pessoas ansiosas por novos climas, paisagens e aromas.

Sim, viajar é preciso, se o motivo for puro amor, melhor ainda.