quinta-feira, 8 de março de 2018


"Canção das mulheres:" 

"Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. 
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. 
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. 
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. 
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a ideia da perda, e ouse ficar comigo um pouco, em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo: ''olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher."
(Texto - Lya Luft)

Graças a Deus, por todas as mulheres! nEle somos perfeitas, ainda que vulneráveis.

Canção - Coração de mulher

quarta-feira, 1 de março de 2017

É preciso viajar


É preciso viajar.

Um relato bem despretensioso da nossa viagem à Bahia no final de 2016. A proposta desta viagem surgiu com o compromisso do marido em "pagar um promessa" feita para a minha mãe que passou por uma cirurgia no início do mesmo ano: "se a senhora sobreviver, vamos leva-la para visitar os parentes na Bahia". Lá fomos nós, unir o amor ao compromisso, o desprendimento à disposição e ritmo do outro. Relendo o roteiro descrito do que fizemos, acho que valeu a pena. Vem comigo neste café viajante, e imagine como foi:

Porto Seguro - Itabuna - Itacaré - Ilhéus/Bahia - Brasil 2016
1º dia: café delicioso durante o voo, 2 horas no ar e já estávamos na Bahia. Motorista que nos aguardava era muito simpático, deu dicas e nos deixou na pousada escolhida. Atendimento simples, simpático e eficiente.

Dicas de praias fora do circuito turista, orientação para os pontos dos coletivos e bancos.
Almoço no quintal da casa vizinha: Escritório Restaurante: moqueca mista, devidamente acompanhada de pirão, pimenta e atendimento simples e caseiro.
Para finalizar o dia, Picolé do Zé: maracujá, pitanga, cupuaçu, cajá, coco... fruta no palito.

2º dia: iniciamos o com um café  da manhã simples, como a pousada que escolhemos, mas cheio de amor
Seguimos de coletivo, que faz a linha normal dos moradores, para uma almoço riquíssimo e delicioso na casa da prima: a melhor moqueca caseira, vatapá, abóbora com quiabo, arroz, feijão, suco de maracujá, suco de umbu, mousse de cupuaçu e muitos primos, conversas em alta voz, fotos antigas e café.
Voltamos para a pousada e ainda tivemos disposição para papear com os vendedores de barracas, apreciar um bom acarajé. E para fechar o dia: tapioca de carne seca, com queijo e purê de banana da terra e suco de cacau: indescritível!

3º dia: Café da manhã tranquilo, sem pressa e com suco de  seriguela.
Enquanto a dna. Valdete foi passar o dia na casa da sobrinha, decidimos ir a praia.

Caminhada rápida nas ruas de paralelepípedos, entre as casas com fachadas antigas. Fomos de coletivo que faz o trajeto por todas as praias.
Uma hora de estrada, muitos turistas, coletivo lotado. Vozes com muitos sotaques.
Do lado esquerdo da estrada, grandes hotéis, complexos turísticos e Resorts. Do lado direito, visão infinita de um mar verde, imponente e cercado de barracas onde os turistas são servidos por pessoas que não moram, e talvez jamais usufruam do luxo do lado oposto. A grande maioria dos turistas, descem e ficam nas praias badaladas, nosso destino era quase o último e poucos desceram conosco.

Na chegada da praia Coroa Vermelha, um corredor cheio de barracas de produtos variados, que termina no pátio da 1ª missa rezada no Brasil. A Cruz  cravada no meio do pátio. Descendentes de índios vendem lembrancinhas e fotos, da terra que um dia foi deles.
Nos acomodamos. Mar calmo, nada de muvuca, lambaeróbica, axé ou dançarinos.
Banho de mar, leitura de livro, caminhada de mãos dadas, peixe frito, sucos de maracujá, cupuaçu, caju e cacau. Um dia de férias.

4º dia: dia de irmos para Itabuna. Nos dividimos, alguns de carro, os outros de ônibus. Muita terra, muito verde. Tudo tem dono. Estrada boa, a chuva foi nossa companheira.
Parada no meio do caminho para comprarmos chocolate direto da fazenda Boa Esperança, na loja Chocolate da Bézinha: cacau de verdade, sem conservantes, corantes ou misturas.
Um pouco mais de estrada e chegamos a Itabuna, bairro Califórnia, rua da Glória.  Uma vida inteira ouvindo sobre este lugar. Um vida inteira recebendo cartas deste endereço.
Não exploramos muita coisa,  era apenas uma passagem mesmo, mas logo se percebe que tem de tudo em Itabuna. 
Casa cheia, rostos desconhecidos e curiosos, alegria e abraços de irmãs e sobrinhas, o rosto  da dna. Valdete era só felicidade. Na cozinha, comida pronta. Simples, caseira e cheia de amor e agradecimento.
Como previsto, e ainda bem que deu certo, dna. Valdete fica um Itabuna, tempo de matar saudades, conversar, receber visitas e possivelmente relembrar momentos da vida dela na rua onde cresceu e viveu.Um tempo somente para ela. Nós, seguimos rumo a Itacaré.

Rodoviária cheia, movimento normal para um dia 22 de dezembro, passagens compradas, malas nas mãos, desta vez  estaremos na estrada juntos. Previsão: 2 horas e meia de viagem.
Realidade: 3 horas e 40 minutos de viagem, muitas paradas, estrada estreita e escura, curvas, subidas, descidas e chuva, muita chuva. Durante o percurso, muitos moradores subiram e ficaram pela estrada, no final do trajeto apenas nós, e mais 3 pessoas.
Rodoviária minúscula, no meio do nada e muitos gritos de "táxi"? "carro" e ninguém com cara de taxista. Óbvio que turista se conhece logo, mas nada de pânico: voz segura, pergunta certa, sem rodeios e muitos sorrisos, logo estávamos em um táxi de verdade, com valor fechado e mais 10 minutos na entrada da pousada.

Cansaço, resquícios da chuva e falta de preparo do recepcionista do hotel, não causaram boa impressão na chegada. Fomos dormir, nada que um noite de descanso não restaure.

5º dia: começou com um café da manhã muito bom: bolos caseiros, pães caseiros, ovos mexidos, suco de cacau cajá, café e expectativas para a praia. Enfim, um dia inteiro de praia.
Para aplacar o cansaço, vamos a praia mais próxima: a da Concha. Bem pertinho, 2 ruas abaixo da pousada, várias opções de barracas, estrutura de cadeiras e guarda sol, música ambiente nas barracas, porém apenas ambiente. Difícil mesmo foi escolher para qual dos lados olhar: quanta beleza! Que paraíso! E ainda por cima águas tranquilas!? Não precisava conhecer mais nada, ficar ali já bastava.

A praia é pequena: do lado esquerdo para quem olha de frente para o mar, lá no finalzinho, um mirante em cima das pedras de onde é possível avistar um pedaço do centrinho de Itacaré com suas casas históricas, e o encontro do rio com o mar, além dos passeios rasantes dos barcos pesqueiros e as escunas que levam os turistas para a cachoeira. 
Do outro lado, pedras e arrecifes que dividem o mar e traçam o caminho para a praia do Resende. Na ponta das pedras em sentido do mar,  um grande farol branco.

Após um delicioso almoço: moqueca de peixe, arroz, pirão e pimenta, mais suco de cacau e cupuaçu, descanso, mais banho de mar e stand up, um espetáculo da natureza: o sol se pondo atrás do mirante e refletindo no outro lado da praia, na parede branca do farol. 

A noite fomos conhecer o centrinho. O famoso Pituba em Itacaré, é praticamente uma rua longa onde é possível encontrar restaurantes para todos os gostos, artes,  mercado, lanches, artesanato, música e muitos "viajantes Roots" que passam e ficam por Itacaré. E o que mais fazemos em férias? Comemos!

Jantar delícia: preço acessível, peixe fresco e mais sucos de frutas. Liginha aproveitou a oportunidade e cansada de comer peixe, como uma boa paulistana escolheu spaghetti ao molho vermelho.
Muito agito: turistas, apresentação de capoeira, lojinhas de acessórios ( sempre de viajantes que vieram de outras cidades ou Países e ficaram em Itacaré). Paramos na Banana Gourmet, conhecemos a doce Ester. Prometemos voltar para provar a iguaria: banana da terra empanada e recheada com doce de leite. 10 minutos de caminhada contemplando o lindo céu de estrelas e estávamos de volta a pousada.

6º dia: véspera de natal, dia de conhecer as praias próximas: Resende e Tiririca. Fizemos uma caminhada razoável pelo asfalto, saindo do centrinho, até a paria do Resende.
Linda, com bastante verde, caiçaras e surfistas. Andamos por cima das pedras que margeiam as praias, chegamos a praia do Tiririca e   fomos "recepcionados" por um atendente de barraca, alugando guarda sol e cadeiras. Praia brava, altas ondas e muitos surfistas. Ficamos  por aqui durante a manhã.
Logo após as 13:00 retornamos pelas pedras, paramos na Resende que é um enseada com lindos coqueiros e um gramado onde se praticam yôga e capoeira. Um tempo de brincadeira e fotos, seguimos rumo a Concha. 
Como voltamos pela estrada, rumo ao centro, paramos no 1º restaurante da subida ( que eu realmente não lembro o nome) comida boa, caseira, peixe fresco e mais sucos. Em seguida, fomos encerrar a tarde: stand up, cochilo e aguardar o pôr do sol na praia da Concha.

A noite fomos ao centrinho com o objetivo de comprarmos comida fresca e saborosa, tudo para viagem. Antes de voltarmos, tomamos um rápido café na Banana Gourmet. Fomos atendidos pela Ester, e para a sobremesa: banana da terra empanada e recheada com doce de leite, acompanhada de sorvetes. Prometemos voltar com calma, não conseguimos. Mais um bom motivo para voltarmos a Itacaré.
Ceia escolhida foi carne seca cremosa com abobora, peixe grelhado com arroz,  e batatas fritas.
Montamos as mesas com total cumplicidade da pousada, foi um ceia de natal deliciosa e abençoada. Oramos, agradecendo a comida a mesa e a data que recorda o nosso maior presente e Presença: Jesus.

7º dia: café da manhã preguiçoso, sem pressa, tínhamos apenas praia no roteiro deste dia.  Procuro por banana da terra, e a Cláudia (ah a Cláudia, responsável pela cozinha da pousada) é ela quem faz as tapiocas, mas naquele dia eu queria mesmo era a banana da terra frita, e...ela fez! Meu Deus! Gosto de infância, de casa de mãe, de lanche da tarde...e o aroma? Ah o aroma. Comecei este dia bem feliz!
Dia inteiro na praia da Concha, que neste dia estava bem mais cheia, os moradores estavam de folga e também foram aproveitar. 
Almoçamos um moqueca deliciosa, e como deve ser, bem baiana.

Mais um passeio na Pituba, e sem querer sou atraída para uma loja de acessórios feitos com pedras brasileiras com referências e design africanos. Quase não consigo sair de lá sem deixar deixar muitos reais, ainda bem que resisti ao meu crivo do "quero, preciso, posso?" Mas, vale a pena conhecer a lojinha D'Afrique : bolsas, pulseiras, relógios e outras peças feitas artesanalmente. Confesso que meu coração disparou.

8º dia: dia de ir embora, até logo Itacaré.   Locamos uma Doblô até Ilhéus, e o Carlos dono e motorista aproveitou para nos contar sobre Itacaré, com um outro olhar, de uma outra forma. Sempre bom ouvir a realidade, e desconstruir a visão romântica do lugar, sem perder o interesse pela beleza natural.
A Chegada em Ilhéus não foi animadora. Janelas cheias de grades, bagunça no trânsito e a entrada da cidade bem abandonada. A pousada que passaríamos a ultima noite na Bahia, é dentro de um condomínio na praia dos Milionários. 
Bem simples, pouco entusiasmo, nada de aconchego. Uma casa urbana que foi transformada em pousada, mas que poderia receber e atender bem melhor.
O último almoço em terras baianas foi delicioso, uma feijoada leve no Sabores da Terra. Em seguida um ultimo olhar para o mar, seguimos rumo a Itabuna. Hora de buscar dna Valdete.
1 hora e um pouquinho de viagem, muito verde, 2 grandes faculdades pelo caminho, vilas, e estrada boa. 
Chegamos em Itabuna para o lanche: caranguejo, pão com frios, banana da terra assada e suco. Abraços de despedida, promessas de volta e seguimos para Ilhéus.

9º dia: dificuldade para acharmos um local para o café da manhã (faz sentido uma pousada não servir?), muito calor, malas prontas, seguimos rumo ao aeroporto. 
Sala de embarque lotada, aeronave lotada...mas dentro do horário chegamos a Salvador.
Mais um tempo de espera, lanche/almoço no aeroporto, cochilos, leitura, embarcamos rumo a São Paulo.
Chegada tranquila na pista. Saguão lotado, estacionamento cheio, embarque e desembarque frenético, cheio de pessoas ansiosas por novos climas, paisagens e aromas.

Sim, viajar é preciso, se o motivo for puro amor, melhor ainda.








sábado, 31 de dezembro de 2016

O último café...do ano.


Durante a viagem no período de Natal me programei para conhecer três cafeterias que eu havia pesquisado e gostado na Bahia. Não deu certo...
Voltei para Sampa, pesquisei mais uma vez quais cafeterias estariam abertas neste período, e tentei marcar um café fora de casa,  também não deu certo...

Hoje tomei um café coado delicioso, acompanhado do abençoado pãozinho fresco, que o marido comprar sempre pelas manhãs, com ricota e  doce de banana natural que veio direto de Itacaré.
Na melhor mesa do mundo, a da minha casa e com duas das pessoas que mais amo neste mundo: Elton e Liginha.

Não foi em nenhuma das cafeterias planejadas e nem com as pessoas que eu havia pensado e convidado. Mas foi a melhor forma de agradecer por este ano, tão diferente para mim, em que eu consegui cumpri as promessas que fiz neste texto que escrevi sobre cicatrizes há exatamente um ano atrás: viver, viver de forma mais simples, viver sem querer controlar tudo, viver e agradecer o tempo todo por estar viva.



Minha casa é meu refúgio, minha mesa é sagrada, e fica ao lado da cozinha onde destilo meu amor nas panelas, ouço minhas músicas preferidas, olho para o painel de azulejos acima da pia, e relembro que a vida é feita de retalhos. Não há lugar melhor para estar.

Não conheci 12 cafeterias como havia planejado no projeto inicial, faltaram três para completar o objetivo. Encerro aqui, juntamento com o ano de 2016.
Não irei em busca das que faltaram. Prefiro entender que o que era para acontecer, aconteceu.
No tempo certo, com as pessoas certas. Foram momentos maravilhosos, tempo de qualidade, olho no olho e coração na mesa, sempre acompanhados de uma ou mais xícaras de café.
Meu agradecimento especial as pessoas que compartilharem comigo destes momentos, tomando café ou apenas lendo os textos, ou olhando as fotos. 

Muitos cafés virão em 2017, assim eu anseio. Espero ter inspiração para escrever sobre eles, ou inspirar muitos papos para cafés deliciosos e demorados.


Deus, família, amigos verdadeiros e café... o que mais posso querer? Saúde! Muita saúde para viver.
Feliz Ano Novo! Novos cafés! Novos momentos!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Recomece, sempre vale a pena!

Talvez pela minha história de vida, nunca tive medo de recomeços e tentativas. Sempre tentei pensar de uma forma lógica: caiu? Levanta, ajunta os cacos e segue em frente.
Deu certo. Claro que o preço foi alto, mas valeu a pena.
Há aproximadamente 2 anos uma amiga comentou comigo que estava jogando vôlei a tarde.  Eu, que sempre gostei muito de vôlei, comentei o quanto achava legal, e que se eu pudesse também jogaria, mas trabalhando em período integral era impossível.
Quem me conhece um pouco, sabe que joguei vôlei durante minha adolescência, e deixar a quadra e o esporte de lado foi uma grande frustração na minha vida.
No decorrer dos anos, de vez em quando participava uma partida recreativa com amigos... nada demais. E sempre que podia acompanhava pela TV alguns jogos. Um amor um tanto platônico, por assim dizer.
Em 2010 escrevi um texto sobre a necessidade de eliminar 16kg, O projeto16 (leia aqui). Depois disto, desisti da academia, tentei caminhar em parques, mudei (muito) a minha alimentação, fiz dieta naturalista, e prezo por comida de verdade. Tem sido muito bom, sigo assim e estou adorando, mas o peso a mais ainda permanece. O projeto16 já virou projeto13, mas continuava com a necessidade de sair do sedentarismo.
Eu havia tentando montar um time de vôlei para jogarmos em casa, uma vez por semana. Não deu certo. De“vôlei da Ivetinha” virou “vôlei dos amigos”. Apenas os homens se interessaram.
Sem problemas, fiquei feliz. Nada como o marido ter uma distração com os amigos.

Este ano, minha amiga que passou por uma gravidez durante este tempo, e estava voltando ao vôlei me convidou novamente, após as férias de Julho. Gostei dos horários, perto de casa, achei que seria possível.
Mas, como me conheço bem, e sei que o meu senso de observação é bem afiado, quis participar de uma aula-teste. Não comentei nada em casa, inventei uma desculpa e fui.
Pensei: será tranquilo. Nada mais que algumas mulheres jogando vôlei. Vou lá, entro no time, faço o que eu sei. Se gostar eu volto, se não gostar está tudo certo.

Quando cheguei minha amiga já estava em quadra, me recebeu, percebeu meu desconforto e me apresentou para a técnica que foi rápida e direta: cumprimentou-me com um “oi”, perguntou se eu tinha entregue o exame médico de liberação na secretaria – sim, eu fui ao cardiologista, passei por consulta, fiz o eletro, e pedi a liberação – e, claro, ela sabia o que viria pela frente.

Fui para a quadra e...  um trator passou em cima de mim! 01h10min de treino, que exigia reflexo, rapidez, posição correta, conhecimento técnico do esporte, resistência e vontade. Apenas 20 minutos de jogo, e de cara eu percebi. Não sabia NADA, não JOGAVA nada.
Fiquei arrasada, surpresa e saí do treino morta. O Salonpas, que eu nunca suportei o cheiro virou meu amigo. Minhas pernas estavam destruídas.
Voltei pensando nas possibilidades e no jantar contei para a família sobre o treino, as intenções de participar e recebi o apoio unânime. Fiz a matrícula e na semana seguinte eu comecei.
Os três primeiros dias de treino foram os mais difíceis, não acertava nada, não tinha forças para correr e com os reflexos absolutamente enferrujados.

Nunca fiquei paralisada por limites externos ou expectativas de outras pessoas, mas as limitações que eu mesma imponho, a autocobrança, o medo da exposição e meus paradigmas, estes sim, sempre foram barreiras.  E neste caso, a começar pelo horário.
Como assim? Parar o trabalho e todo o resto no meio da tarde, 2 vezes por semana e me permitir treinar e jogar vôlei? Eu não deveria fazer isto!

Outro ponto: errar! Sempre me sinto exposta quando eu erro.
Eu me esforço para fazer sempre da melhor forma possível. Tudo que me proponho a fazer é com excelência. Neste caso, entre 11 mulheres e 1 homem, eu era a pior, a que menos sabia.
E aquele vôlei simples que eu jogava quando era adolescente? Cadê? Os fundamentos e toques são os mesmos, mas agora existem outros sistemas de jogo. Eu estava desatualizada.
Além dos treinos puxados, a técnica marca em cima, e as companheiras de jogo também. Então, o resumo era: “Vamos Ivete!” “Não acredito Ivete!” “Corre Ivete” “Vai Ivete” “Assim não Ivete”... Nunca ouvi tanto o meu nome! Quer mais exposição que isto?

Ao final do 3º dia de treino eu fiquei bem mal, meu desempenho tinha sido ruim, eu era a novata, as meninas já estavam alinhadas, pois há anos jogam juntas. Aquele sentimento péssimo, de não saber e ainda atrapalhar. Fui conversar com a técnica.
E ela me disse: “não atrapalha não. Você está aqui para aprender e se divertir, a questão é: eu vou pegar no teu pé até tu aprender. Se tu não te importas com isto, de ouvir seu nome o tempo inteiro, não tem problema”. 
Já tinha gostado da postura dela nos treinos anteriores por outras questões que havia observado, e naquele momento decidi: vou ficar. Bora Ivete, fazer acontecer!

Fui estudar, perguntar, ler sobre as mudanças. Voltei para as caminhadas para fortalecer o corpo e ajudar na resistência física. Neste processo três coisas me marcaram:
Uma colega de treino me disse: “Daqui um ano você vai agradecer todos os dias pelo vôlei” Quando falei sobre o paradigma dos horários.
Minha filha: “mãe, desencana. Aproveita que seus horários estão mais flexíveis, e se permita. Você trabalhou a vida toda e não podia,  agora você pode”.
No final de um dos treinos, a técnica disse: “vocês precisam se ajudar. Precisam ajudar as que sabem menos. Pode cobrar, falar o nome delas”. E alguém disse: “Nossa, na turma anterior uma pessoa desistiu de tanto que falávamos o nome dela”. E eu respondi: pode me chamar, pode gritar o meu nome, não vou desistir.

Já são quatro meses ininterruptos de treino. Ainda preciso melhorar, aprender e render muito. Mas, já avancei bastante.
São as minhas sessões de terapia! Me exercito, supero, aprendo, socializo e me divirto.
Dias atrás na tentativa de salvar uma bola, eu caí. Tive que sair do jogo, machuquei o joelho direito e o tornozelo esquerdo. Fiquei bem triste com a possibilidade de não jogar nos próximos dias. Mas, só cai quem está em pé, correndo ou andando. Quem está parado, não cai.

E o vôlei é bem isto. É um esporte de equipe, onde a comunicação é super importante pois só temos 3 tentativas para obter a bola e pontuar, e um dos maiores prejuízos no jogo, é aquela situação em que a bola cai e ninguém pega, pois todos pensam que alguém está indo.  
Decidir rapidamente e de forma estratégica, visando um todo e não apenas você.
É necessário confiança em você e também para destacar os pontos fortes de seus companheiros de equipe. Continuar jogando mesmo quando está perdendo. A aceitar os seus erros, e dos outros.
Dividir com a equipe o resultado do desempenho, bom ou ruim.
É um esporte de jogo muito rápido. Tem que estar sempre na posição, pronto. Isso porque, se você não está na posição correta, em fração de segundos perde a bola.

O voleibol é um jogo onde o reconhecimento e confiança nas habilidades de seus companheiros de equipe é essencial. Você precisa ser capaz de confiar que todo mundo tem boas habilidades e, em caso de emergência, intensificar a ajuda.
É como na vida, você precisa deixar o outro errar, aprender, e tentar. Se ao invés de ajudar ou incentivar, você se joga na frente do outro, tenta “escondê-lo” no jogo, por mais que sua intenção seja ajudar, você corre o risco de irritar seus companheiros e causar confusão.
Voleibol ensina determinação, tenacidade e respeito.

Enfim, para iniciar a série RECOMEÇOS eu escolhi contar um pouco do que tem sido esta ótima fase na minha vida.
E este tema rende papo para muitos cafés: quando decidimos aprender uma nova língua, mudança de carreira, qualidade de vida, intercâmbio, etc.

Vem comigo?!  


Nem precisa de legenda né?

domingo, 11 de dezembro de 2016

9ª Cafeteria - Outubro #cafénews #projeto12cafeterias

Demorei muito para escrever sobre esse papo para um café. Não por falta de interesse, vontade ou intensidade. Muito pelo contrário, o lugar escolhido é bem legal e a minha companhia para o café exala intensidade, vontade e “interessância”.
Mas por que há momentos que é preciso  parar e repensar se o que estamos fazendo faz sentido realmente. Acho que tem sido melhor viver, do que expressar em palavras o que eu tenho vivido.
Para não interromper o projeto, vou tentar continuar escrevendo.
Fomos à cafeteria Soul Café. Entre três opções, escolhemos esta pela localidade e facilidade para chegarmos, já que moramos em zonas opostas de São Paulo.

Bem perto da estação de metrô Consolação, na rua Augusta , a cafeteria fica dentro de uma galeria. Portanto, você pode tomar o seu café com tranquilidade, protegido do barulho e da muvuca.

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O local é pequeno, com uma decoração bem moderna, cardápio em formato de lousa, gravuras nas paredes e música ambiente.
Um ótimo atendimento, cafés de grãos selecionados e boas opções de lanches, um pão de queijo delicioso para acompanhar o café.
Se você estiver na região, quiser sentar, papear e tomar um café com uma amiga, eu indico o Soul Café.

Depois de nos acomodarmos e tomarmos algo fresco, já que o dia estava abafado e chuvoso, colocamos os assuntos em pauta e fizemos as nossas escolhas: um expresso e um pão de queijo para mim; um Aeropress e bolo de chocolate para a minha amiga, que prefere um coado mais fraco.

 

Eu e a Roseli já tomamos muitos cafés, apesar do pouco tempo de amizade, já temos algumas linhas escritas juntas.
Ela é daquele tipo de pessoa que não passa despercebida, é marcante, intensa e tem um coração gigante. É uma mãe excelente, cuidadosa e dedicada. Profissional e, agora, empreendedora; também é uma filha amorosa.
Assim como eu, aprendeu bem cedo a batalhar pelos seus sonhos e projetos de vida. Atravessamos fronteiras, crescemos profissionalmente e assim nos conhecemos, em uma reunião de trabalho, por coincidência também na Avenida Paulista, em 2009.
Temos personalidades absolutamente diferentes, mas desde o primeiro dia iniciamos uma amizade que cresceu e fortaleceu em respeito e empatia.
Já viajamos juntas, compartilhamos momentos de celebração, festa e choro. E atualmente estamos vivendo momentos diferentes e não planejados nas nossas vidas.
                                                               

















Ela adora fotografar, postar no Instagram, dançar e sair com os amigos para se divertir. É sempre verdadeira nas palavras e atitudes, portanto pessoa rara para se conviver. E apesar das mudanças de rotas que a vida tem nos proporcionado, espero sempre seguirmos mantendo este vínculo fraterno.

Ela está sempre em minhas orações, e eu sei que sigo no coração dela.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Quase, aprisiona.


Quase é o gosto do imperfeito quando a esperado era o perfeito;
Quase é a necessidade que morará para sempre no inconsciente;
Quase é a falta de resposta morando dentro de nós;
Quase é o imaginário do que poderia ter sido;
Quase é um cartaz te dizendo que você poderia: ter ido ou ter ficado...
Quase é o sentimento que nasceu, mas não sobreviveu.
Quase é  quando você para e a vida ainda segue;
Quase é a lágrima que não chega ao lábio, sufocada pelo orgulho;
Quase é a falta de coragem que nos assombra todos os dias;
Quase é falta de centímetros na prova da passarela;
Quase é a meta perdida na pressão do prazo;
Quase é a certeza que você fez o melhor que podia, mas não foi suficiente.
Quase é a ilusão que sempre teremos tempo para algo mais;
Quase é a tristeza presa no olhar;
Quase é a prisão que está sempre aberta, mas você não sabe;
Quase é como o amanhã: você almeja, mas não existe.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Eu, desconfiada.

No início dos anos 2000 eu tive meus primeiros contatos com empresas que adotavam discursos sobre diversidade, igualdade e sustentabilidade.

Por causa das minhas experiências vividas desde a infância, nunca acreditei verdadeiramente nestes discursos.

Nasci e cresci muito pobre em um bairro da extrema periferia da zona sul de São Paulo, lá, desde cedo, aprendi que: pobre, negro e mulher tinham lugares diferentes dos ricos, brancos e homens.
Apesar de nunca ter sido uma ativista, que carregava bandeiras em passeatas, esses estigmas nunca me paralisaram. Com nove anos já era frequentadora assídua de biblioteca, lia livros seguidamente, gostava de revistas, sonhava em conhecer lugares novos e viajar muito. Sempre quis ser a melhor naquilo que eu fazia, desde a redação solicitada pela professora Terezinha na 7ª série do extinto ginásio, até participar da organização da formatura da 8ª, que foi linda no salão da igreja católica ao lado do colégio municipal que eu estudei desde a 1ª série.

Mesmo assim, ser aplicada nos estudos, interessada e informada não me privou de viver situações que me lembravam o tempo todo de que os limites existiam, sim. Sofri vários tipos de assédio, sempre cercada de muitos preconceitos na vida: em lojas, ambiente de trabalho, entrevista de emprego, reuniões sociais, igreja, na rua etc.
Motivos nunca faltaram: mulher, negra, pobre, mãe solteira e de cabelo crespo. Mais recentemente, casada com um negro, gorda e cristã evangélica.

Por isso, sempre olhei com muita desconfiança para estes discursos de igualdade, diversidade e respeito. Por muitas vezes, presenciei situações em que as pessoas que escreviam, aprovavam e declaravam esses discursos agiram de forma contrária: com muito preconceito e desigualdade para com os outros.
É o famoso “não tenho nada contra, desde que não seja comigo, na minha casa, na minha vida”, “desde que o pobre e/ou negro não tome o lugar que me pertence”, “mãe solteira é vagabunda”, “Cabelo bonito é cabelo liso”, “evangélicos são todos burros”, “você tem um rosto lindo, é só emagrecer” e por aí vai...

Nunca me deixei paralisar. Atravessei fronteiras, pontes, alcancei espaços. Conheço o lado de lá e o lado de cá. Mas ainda assim, ou por isso mesmo, eu continuo bem desconfiada.