quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Quase, aprisiona.
Quase é o gosto do imperfeito quando a esperado era o perfeito;
Quase é a necessidade que morará para sempre no inconsciente;
Quase é a falta de resposta morando dentro de nós;
Quase é o imaginário do que poderia ter sido;
Quase é um cartaz te dizendo que você poderia: ter ido ou ter ficado...
Quase é o sentimento que nasceu, mas não sobreviveu.
Quase é quando você para e a vida ainda segue;
Quase é a lágrima que não chega ao lábio, sufocada pelo orgulho;
Quase é a falta de coragem que nos assombra todos os dias;
Quase é falta de centímetros na prova da passarela;
Quase é a meta perdida na pressão do prazo;
Quase é a certeza que você fez o melhor que podia, mas não foi suficiente.
Quase é a ilusão que sempre teremos tempo para algo mais;
Quase é a tristeza presa no olhar;
Quase é a prisão que está sempre aberta, mas você não sabe;
Quase é como o amanhã: você almeja, mas não existe.
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Eu, desconfiada.
No início dos anos 2000 eu tive meus primeiros contatos com
empresas que adotavam discursos sobre diversidade, igualdade e
sustentabilidade.
Por causa das minhas experiências vividas desde a infância, nunca
acreditei verdadeiramente nestes discursos.
Nasci e cresci muito pobre em um bairro da extrema periferia da
zona sul de São Paulo, lá, desde cedo, aprendi que: pobre, negro e mulher
tinham lugares diferentes dos ricos, brancos e homens.
Apesar de nunca ter sido uma ativista, que carregava bandeiras em
passeatas, esses estigmas nunca me paralisaram. Com nove anos já era
frequentadora assídua de biblioteca, lia livros seguidamente, gostava de
revistas, sonhava em conhecer lugares novos e viajar muito. Sempre quis ser a
melhor naquilo que eu fazia, desde a redação solicitada pela professora
Terezinha na 7ª série do extinto ginásio, até participar da organização da
formatura da 8ª, que foi linda no salão da igreja católica ao lado do colégio
municipal que eu estudei desde a 1ª série.
Mesmo assim, ser aplicada nos estudos, interessada e informada não
me privou de viver situações que me lembravam o tempo todo de que os limites
existiam, sim. Sofri vários tipos de assédio, sempre cercada de muitos
preconceitos na vida: em lojas, ambiente de trabalho, entrevista de emprego,
reuniões sociais, igreja, na rua etc.
Motivos nunca faltaram: mulher, negra, pobre, mãe solteira e de
cabelo crespo. Mais recentemente, casada com um negro, gorda e cristã
evangélica.
Por isso, sempre olhei com muita desconfiança para estes discursos
de igualdade, diversidade e respeito. Por muitas vezes, presenciei situações em
que as pessoas que escreviam, aprovavam e declaravam esses discursos agiram de
forma contrária: com muito preconceito e desigualdade para com os outros.
É o famoso “não tenho nada contra, desde que não seja comigo, na
minha casa, na minha vida”, “desde que o pobre e/ou negro não tome o lugar que
me pertence”, “mãe solteira é vagabunda”, “Cabelo bonito é cabelo liso”,
“evangélicos são todos burros”, “você tem um rosto lindo, é só emagrecer”
e por aí vai...
Nunca me deixei paralisar. Atravessei fronteiras, pontes, alcancei
espaços. Conheço o lado de lá e o lado de cá. Mas ainda assim, ou por isso
mesmo, eu continuo bem desconfiada.
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