Talvez pela minha história de vida, nunca tive medo de
recomeços e tentativas. Sempre tentei pensar de uma forma lógica: caiu?
Levanta, ajunta os cacos e segue em frente.
Deu certo. Claro que o preço foi alto, mas valeu a pena.
Há aproximadamente 2 anos uma amiga comentou comigo que
estava jogando vôlei a tarde. Eu, que
sempre gostei muito de vôlei, comentei o quanto achava legal, e que se eu
pudesse também jogaria, mas trabalhando em período integral era impossível.
Quem me conhece um pouco, sabe que joguei vôlei durante
minha adolescência, e deixar a quadra e o esporte de lado foi uma grande
frustração na minha vida.
No decorrer dos anos, de vez em quando participava uma
partida recreativa com amigos... nada demais. E sempre que podia acompanhava
pela TV alguns jogos. Um amor um tanto platônico, por assim dizer.
Em 2010 escrevi um texto sobre a necessidade de eliminar
16kg, O projeto16 (
leia aqui). Depois disto, desisti da academia, tentei
caminhar em parques, mudei (muito) a minha alimentação, fiz dieta naturalista, e prezo por comida de verdade. Tem sido muito
bom, sigo assim e estou adorando, mas o peso a mais ainda permanece. O projeto16 já virou projeto13, mas continuava
com a necessidade de sair do sedentarismo.
Eu havia tentando montar um time de vôlei para jogarmos em casa, uma vez por semana. Não deu certo. De“vôlei da Ivetinha” virou “vôlei
dos amigos”. Apenas os homens se interessaram.
Sem problemas, fiquei feliz.
Nada como o marido ter uma distração com os amigos.
Este ano, minha amiga que passou por uma gravidez durante
este tempo, e estava voltando ao vôlei me convidou novamente, após as
férias de Julho. Gostei dos horários, perto de casa, achei que seria
possível.
Mas, como me conheço bem, e sei que o meu senso de observação é bem
afiado, quis participar de uma aula-teste. Não comentei nada em
casa, inventei uma desculpa e fui.
Pensei: será tranquilo. Nada mais que
algumas mulheres jogando vôlei. Vou lá, entro no time, faço o que eu sei. Se
gostar eu volto, se não gostar está tudo certo.
Quando cheguei minha amiga já estava em quadra, me recebeu,
percebeu meu desconforto e me apresentou para a técnica que foi rápida e
direta: cumprimentou-me com um “oi”, perguntou se eu tinha entregue o exame
médico de liberação na secretaria – sim, eu fui ao cardiologista, passei por
consulta, fiz o eletro, e pedi a liberação – e, claro, ela sabia o que viria
pela frente.
Fui para a quadra e... um trator passou em cima de mim! 01h10min de treino, que exigia reflexo,
rapidez, posição correta, conhecimento técnico do esporte, resistência e
vontade. Apenas 20 minutos de jogo, e de cara eu percebi. Não sabia NADA, não
JOGAVA nada.
Fiquei arrasada, surpresa e saí do treino morta. O Salonpas,
que eu nunca suportei o cheiro virou meu amigo. Minhas pernas estavam
destruídas.
Voltei pensando nas possibilidades e no jantar contei para a
família sobre o treino, as intenções de participar e recebi o apoio unânime.
Fiz a matrícula e na semana seguinte eu comecei.
Os três primeiros dias de treino foram os mais difíceis, não
acertava nada, não tinha forças para correr e com os reflexos absolutamente
enferrujados.
Nunca fiquei paralisada por limites externos ou expectativas
de outras pessoas, mas as limitações que eu mesma imponho, a autocobrança, o medo
da exposição e meus paradigmas, estes sim, sempre foram barreiras. E neste caso, a começar pelo horário.
Como
assim? Parar o trabalho e todo o resto no meio da tarde, 2 vezes por semana e
me permitir treinar e jogar vôlei? Eu não deveria fazer isto!
Outro ponto: errar! Sempre me sinto exposta quando eu erro.
Eu me esforço para fazer sempre da melhor forma possível.
Tudo que me proponho a fazer é com excelência. Neste caso, entre 11 mulheres e
1 homem, eu era a pior, a que menos sabia.
E aquele vôlei simples que eu jogava quando era adolescente?
Cadê? Os fundamentos e toques são os mesmos, mas agora existem outros sistemas
de jogo. Eu estava desatualizada.
Além dos treinos puxados, a técnica marca em cima, e as
companheiras de jogo também. Então, o resumo era: “Vamos Ivete!” “Não acredito
Ivete!” “Corre Ivete” “Vai Ivete” “Assim não Ivete”... Nunca ouvi tanto o meu
nome! Quer mais exposição que isto?
Ao final do 3º dia de treino eu fiquei bem mal, meu
desempenho tinha sido ruim, eu era a novata, as meninas já estavam alinhadas,
pois há anos jogam juntas. Aquele sentimento péssimo, de não saber e ainda
atrapalhar. Fui conversar com a técnica.
E ela me disse: “não atrapalha não. Você está aqui para aprender
e se divertir, a questão é: eu vou pegar no teu pé até tu aprender. Se tu não te
importas com isto, de ouvir seu nome o tempo inteiro, não tem problema”.
Já
tinha gostado da postura dela nos treinos anteriores por outras questões que
havia observado, e naquele momento decidi: vou ficar. Bora Ivete, fazer
acontecer!
Fui estudar, perguntar, ler sobre as mudanças. Voltei para
as caminhadas para fortalecer o corpo e ajudar na resistência física. Neste
processo três coisas me marcaram:
Uma colega de treino me disse: “Daqui um ano você vai agradecer
todos os dias pelo vôlei” Quando falei sobre o paradigma dos horários.
Minha filha: “mãe, desencana. Aproveita que seus horários
estão mais flexíveis, e se permita. Você trabalhou a vida toda e não podia, agora você pode”.
No final de um dos treinos, a técnica disse: “vocês precisam
se ajudar. Precisam ajudar as que sabem menos. Pode cobrar, falar o nome
delas”. E alguém disse: “Nossa, na turma anterior uma pessoa desistiu de tanto
que falávamos o nome dela”. E eu respondi: pode me chamar, pode gritar o meu
nome, não vou desistir.
Já são quatro meses ininterruptos de treino. Ainda preciso melhorar, aprender e render muito. Mas, já avancei bastante.
São as minhas sessões de terapia! Me exercito, supero, aprendo,
socializo e me divirto.
Dias atrás na tentativa de salvar uma bola, eu caí. Tive que
sair do jogo, machuquei o joelho direito e o tornozelo esquerdo. Fiquei bem
triste com a possibilidade de não jogar nos próximos dias. Mas, só cai quem está
em pé, correndo ou andando. Quem está parado, não cai.
E o vôlei é bem isto. É um esporte de equipe, onde a
comunicação é super importante pois só temos 3 tentativas para obter a bola e
pontuar, e um dos maiores prejuízos no jogo, é aquela situação em que a bola
cai e ninguém pega, pois todos pensam que alguém está indo.
Decidir rapidamente e de forma estratégica,
visando um todo e não apenas você.
É
necessário confiança em você e também para destacar os pontos fortes de seus
companheiros de equipe. Continuar jogando mesmo quando está perdendo. A aceitar
os seus erros, e dos outros.
Dividir com a equipe o resultado do desempenho,
bom ou ruim.
É um esporte de jogo muito rápido. Tem que estar sempre na posição, pronto. Isso porque, se você não está na posição correta, em fração de segundos perde a bola.
O voleibol é um jogo onde o reconhecimento e confiança nas
habilidades de seus companheiros de equipe é essencial. Você precisa ser capaz
de confiar que todo mundo tem boas habilidades e, em caso de emergência,
intensificar a ajuda.
É como na vida,
você precisa deixar o outro errar, aprender, e tentar. Se ao invés de ajudar ou
incentivar, você se joga na frente do outro, tenta “escondê-lo” no jogo, por
mais que sua intenção seja ajudar, você corre o risco de irritar seus
companheiros e causar confusão.
Voleibol ensina determinação, tenacidade e respeito.
Enfim, para iniciar a série RECOMEÇOS eu escolhi contar um
pouco do que tem sido esta ótima fase na minha vida.
E este tema rende papo para muitos cafés: quando decidimos
aprender uma nova língua, mudança de carreira, qualidade de vida, intercâmbio,
etc.
Vem comigo?!
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Nem precisa de legenda né? |